Decidi escrever este post depois ler alguns comentários
de aversão ao Dia da Consciência Negra veiculados juntamente com o vídeo
da entrevista do ator Morgan Freeman ao 60
Minute.
Quando
questionado sobre o que ele acha da instituição do Mês da História Negra, Morgan Freeman fez a seguinte afirmação:
Morgan Freeman: Ridículo.
Mike Wallace: Por quê?
Morgan Freeman: Você vai relegar minha história a um mês?
Mike Wallace: Ah, vamos lá.
Morgan Freeman: Qual mês é mês da história branca?
Mike Wallace:
(pausa) Bom, eu sou judeu.
Morgan Freeman: Ok, qual o mês da história judaica?
Mike Wallace: Não existe.
Morgan Freeman: Oh, oh. Por que não? Você não quer
um?
Mike Wallace: Não.
Morgan Freeman:
Certo. Eu também não. Eu não
quero um mês da história negra. A história negra é história americana.
Mike Wallace: Como é vamos nos livrar de racismo?
Morgan Freeman: Parando de falar sobre isso. Eu vou parar de
chamá-lo de branco. O que eu lhe peço é que pare de me chamar de negro. Eu lhe conheço como Mike Wallace e você me
conhece como Morgan Freeman.
Faltando poucos
dias para o Dia da Consciência Negra,
esse vídeo (datado de 2009) voltou a circular nas redes sociais. Seguido de comentários elogiosos à “sensatez”
do ator norte-americano e críticas à
comemoração do Dia Consciência Negra, 20
de novembro. A maioria dos comentários
se limita a concordar com Morgan Freeman. Afinal, se ele (como negro) falou que
não devemos ter um dia ou mês da História
Negra, ótimo! Que seja assim! Lá nos EUA e aqui!
Sou mulher, negra e moradora de uma periferia
brasileira. Provavelmente, o que eu penso e digo não tem o peso (no imaginário
coletivo) do que disse o consagrado
Morgan Freeman. Mas, com o pouco de autoridade de que disponho me atrevo
a falar sobre racismo e sobre o discurso de Morgan Freeman e os usos e desusos
que estão fazendo do mesmo.
De tudo que
disse Morgan Freeman, só concordo quando ele afirma “a minha história não pode
ser relegada a um mês” e, na sequência, quando diz: “a história dos
afro-americanos é a história americana”. Acredito que isso vale também para xs
afro-brasileirxs em relação à história do Brasil. Neste ponto, a questão
levantada por Morgan Freeman é pertinente: não há uma história negra separada
da história branca, pois história é uma
construção coletiva. Sabemos, no entanto, que a historiografia tradicional --- a história dos vencedores nos
termos de Walter Benjamim --- a que se encontra registrada nos
livros, que é ensinada nas escolas, nem sempre é a história daqueles que experimentaram os piores sofrimentos, a
degradação, a exclusão ou daqueles que resistiram à opressão.
Goya (1808): A execução dos defensores de
Madrid
Como já dizia Renato Russo: O “imperfeito” não
participa do passado". Nem Mulheres, nem
escravos, nem selvagens, nem gays, nem loucos ou marginal de qualquer espécie. O objeto consagrado
pela historiografia oficial não são as bruxas queimadas na fogueira, mas as
instituições e os juízes que as condenaram; não são xs africanxs sequestradxs e trazidxs para capitanias hereditárias, mas os “grandes
navegadores” que rodaram o mundo identificando
povos a serem escravizados e traficados junto com o resto das mercadorias que
circulavam pelo triângulo continental (Américas, África e Europa). Sim, Morgan
Freeman, a história é uma construção coletiva, mas historiografia foi por muito
tempo, e, em certo sentido, ainda é, um clubinho seleto, onde foi vedada a participação
dessa “gentalha anônima” que, aos olhos dos poderosos e dos racistas, não fizeram nada de útil pela humanidade. Foi
com este espírito elitista, racista, xenófobo, homofóbico e machista que, por
muitos séculos, a história de todxs foi concebida, narrada e registrada como a
história de alguns (das elites e oligarquias, dos europeus, dos governantes, em última análise,
dos homens brancos heterossexuais ocidentais). Portanto, ainda que não faça
sentido pensar a história dxs afrodescendentes separada da história de todxs, diante da
exclusão periódica e sistemática de
diversos setores sociais (da população negra, em especial), faz todo sentido
reivindicar uma revisão da história
oficial. Faz todo sentido reivindicar uma historiografia crítica aos projetos
de poder e preconceitos que orientaram a
construção das narrativas históricas nos últimos séculos --- projetos e
preconceitos cujas consequências ainda se fazem sentir. Faz todo sentido
estabelecer contrapontos à narrativa histórica oficial e desenvolver uma
historiografia que contemple o ponto de
vista dos povos colonizados e das
chamadas “minorias” sociais e étnicas.
Morgan Freeman
taxou de ridícula a ideia de
instituir um mês da História Negra nos EUA. Não conheço os marcos deste debate nos EUA, então, só me
resta ponderar sobre o tema da perspectiva brasileira.
Comecemos com
breve histórico do Movimento Negro no Brasil, que há tempos celebra essa data
comemorativa, hoje, denominada “Dia da Consciência Negra”.
Pode-se dizer
que a gênese do Movimento Negro passa pela constituição de clubes, associações e
outras organizações que surgiram no final do século XIX, com objetivo de agregar,
organizar e direcionar as demandas da população negra (recém liberta e desassistida
pelo estado). O primeiro combate foi para que essa população, até então relegada a função de mão-de-obra
escrava, fosse integrada ao estado de direito, ao mercado de trabalho, partilhando
das mesmas prerrogativas dos demais cidadãos. Fora a luta por trabalho e salário,
xs afro-brasileirxs se viram às voltas com a violência daqueles que xs enxergavam como
um problema a ser eliminado. O historiador Cleber da Silva Maciel relata que
entre julho de 1912 e maio de 1916, em
Campinas (SP), dezenas de homens negros e pardos foram encontrados mortos nos
trilhos do trem. Tudo indica que foram assassinados pela polícia que,
quando não conseguia expulsá-los da cidade, forçando-os a embarcar nos trens
rumo a outras regiões brasileiras, simplesmente os matava. Histórias como
essa não constam na historiografia oficial.
O período
pós-abolição não foi fácil. Mesmo com fim do regime escravocrata, o legado
escravista impunha aos recém libertxs
uma situação de extrema vunerabilidade social, da qual buscavam escapar:
Estudo recente mostra
que, no Sudeste, grupos de libertos recorreram aos párocos locais e mesmo a
agentes policiais para apresentar suas condições de permanência aos antigos
senhores. No entanto, negociar com os libertos parece ter sido uma situação
para a qual seus ex-senhores se mostraram indispostos. Grande parte dessa
indisposição para negociar estava relacionada aos desejos dos libertos de terem
acesso à terra e de não serem mais tratados como cativos. Na região açucareira
do Recôncavo, os libertos reivindicaram a diminuição das horas de trabalho e
dos dias que deveriam dedicar à grande lavoura de cana. Exigiram também o
direito de continuar a ocupar as antigas roças e dispor livremente do produto
de suas plantações. Nos dias seguintes ao 13 de maio libertos ocuparam terras
devolutas de engenhos abandonados e iniciaram o cultivo de mandioca e a criação
de animais. Isso mostra que os ex-escravos percebiam que a condição de
liberdade só seria possível se pudessem garantir a própria subsistência e
definir quando, como e onde deveriam trabalhar. Para os ex-escravos e para as
demais camadas da população negra, a abolição não representou apenas o fim do
cativeiro. Para eles a abolição deveria ter como conseqüência também o acesso à
terra, à educação e aos mesmos direitos de cidadania que gozava a população
branca. Na ausência de qualquer iniciativa séria por parte do governo para
garantir um futuro digno aos negros brasileiros após o dia 13 de maio, um grupo
de libertos da região de Vassouras, no Rio de Janeiro, endereçou uma carta a
Rui Barbosa, então figura importante da política nacional. [ Uma história do negro no Brasil de Wlamyra R. de Albuquerque e Walter Fraga Filho]
A carta
mencionada solicitava o apoio de Rui Barbosa para denunciar que a
legislação do fundo de emancipação, que previa recursos do governo imperial e
dos proprietários de escravos para aqueles nascidos livres (dinheiro que
deveria ser utilizado para educação dos filhos dos libertos) não estava sendo
cumprida. O último parágrafo dessa carta
traz uma reivindicação pendente há mais de 100 anos: “Para fugir do grande
perigo que corremos por falta de instrução, vimos pedi-la para nossos filhos e
para que eles não ergam mão assassina para abater aqueles que querem a
República, que é liberdade, igualdade e fraternidade".
A virada do
século XIX para o XX foi marcada pela busca da manutenção da memória das lutas pelo fim da escravidão e por direitos e cidadania. Nessa época, começou a surgir um vocabulário político
próprio para se referir às demandas sociais (como a falta de acesso à terra, ao trabalho e à educação), denunciar e protestar contra discriminação racial. A essas reivindicações o estado reagiu com
silêncio. Ao invés de criar políticas de integração dxs ex-escravxs lançou mão
dos órgãos de repressão do estado (a polícia e os tribunais) para contenção social da
população negra, sobretudo urbana. Ou seja, institucionalizou a exclusão e a
repressão --- não do ponto de vista
legal como nos EUA, onde havia uma legislação que sustentava a segregação ---
no Brasil, não foi instituído um código legal explicitamente segregacionistas,
contudo, para manter a população negra
sob controle (com toda pobreza e falta
de perspectiva a que estava submetida) não se aplicava a lei igualmente para brancos e negros. Além
disso, muitas leis criadas naquela época visavam criminalizar os costumes, o
lazer e a prática religiosa desse setor. Por outra via, as contravenções e os crimes praticados pelos indivíduos pretos e pardos
eram punidos com mais severidade do que os praticados por brancos. Será que
isso mudou?
Quanto Vale ou É por Quilo?
Novo navio negreiro
Direção, Sérgio Bianchi (2005), participação de Lázaro Ramos.
Mas a luta
contra opressão teve lances memoráveis,
como a Revolta da Chibata. A manutenção dos abusos físicos do tempo da
escravidão motivou o levante, iniciada em em 22 de novembro de 1910, que
pode ser considerado um marco nas lutas por Direitos Humanos.
Cicatrizes de chibatadas nas costas de um escravo. Fonte:Wikipédia
Salve o navegante negro que tem por
monumento as pedras pisadas do cais...
Em 1889, com a
Proclamação da República, a prática de castigos físicos foi proibida na Marinha
Brasileira, meses depois, porém,
foi restabelecida. Faltas
consideradas graves, eram punidas com chibatadas.
Vale dizer que a maioria dos marinheiros brasileiros eram negros e pardos.
Em novembro de
1910, a punição aplicada ao marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes, do Encouraçado
Minas Gerais, desencadeou uma revolta. A punição física prevista para faltas
graves era 25 chibatadas, mas Marcelino
levou 250 chibatadas. Revoltados os marinheiros organizaram motins. A princípio
a tomada da esquadra deveria ser pacífica, sem mortes, mas a disputa terminou com
6 mortos. Diante disso, os revoltosos decidiram (em assembleia) entregar o
comando geral da esquadra rebelde a João Cândido Felisberto. No dia 23 de
novembro, João Cândido solicitou
ao marinheiro Francisco Dias Martins que escrevesse um ultimato ao
governo:
"Não queremos a volta da chibata. Isso
pedimos ao presidente da República e ao ministro da Marinha. Queremos a
resposta já e já. Caso não a tenhamos, bombardearemos as cidades e os navios
que não se revoltarem.”
Entendendo que ceder às reivindicações dos revoltosos
seria sinal de fraqueza o governo decidiu torpedeá-los. No dia 25 de
Novembro, o Ministro da Marinha deu a ordem: "hostilize com a máxima
energia, metendo-os a pique sem medir sacrifícios.” Mas pressionado pelo apoio
popular à causa dos marinheiros, a Marinha cedeu decretando o fim dos castigos
físicos e o Congresso Nacional aprovou a anistia dos revoltosos. A revolta
terminou. Alguns jornais conservadores, no melhor estilo Veja, condenaram a demonstração de fraqueza do Governo e da
Marinha por conceder Anistia aos revoltosos. O Congresso e o ministro da Marinha
corresponderam aos anseios da imprensa
conservadora. No dia seguinte ao desarmamento dos navios rebelados, dia 28 de
novembro, o governo promulgou um decreto permitindo a expulsão de marinheiros
que representassem risco à instituição. Depois de uma segunda onda de revoltas
na Marinha, apesar de não haver participado,
João Candido foi preso, sendo transferido na véspera de natal (24 de dezembro de 1910) para uma
masmorra na Ilha das Cobras. Em abril de 1911, ele foi transferido
para o Hospital dos Alienados, internado como louco, mas voltou para a
Ilha das Cobras, de onde foi solto em 1912, absolvido das acusações
juntamente com nove companheiros. À época, o seu defensor foi contratado pela Ordem de Nossa Senhora do
Rosário e dos Homens Pretos, entidade religiosas que buscavam oferecer aos
afro-descendentes os direitos e serviços que o estado brasileiro lhes recusava.
Libertação de João Cândido e outros marinheiros envolvidos na Revolta da Chibata.
Só recentemente
João Cândido saiu da condição de personagem esquecido da historiografia oficial
para se tornar protagonista, apesar ter liderado um movimento social pioneiro
na luta por “Direitos Humanos”.
Para reverter o quadro de marginalização no alvorecer da
República, os libertos, ex-escravos e seus descendentes instituíram os
movimentos de mobilização racial negra no Brasil, criando inicialmente dezenas
de grupos (grêmios, clubes ou associações) em alguns estados da nação. (...)De
cunho eminentemente assistencialista, recreativo e/ou cultural, as associações
negras conseguiam agregar um número não desprezível de “homens de cor”, como se
dizia na época. Algumas delas tiveram como base de formação “determinadas
classes de trabalhadores negros, tais como: portuários, ferroviários e
ensacadores, constituindo uma espécie de entidade sindical”. Pinto computou a
existência de 123 associações negras em São Paulo, entre 1907 e 1937. Já Muller
encontrou registros da criação de 72 em Porto Alegre, de 1889 a 1920, 10 e
Loner, 53 em
Pelotas/RS, entre 1888 e 1929. Havia
associações formadas estritamente por mulheres negras, como a Sociedade Brinco
das Princesas (1925), em São Paulo, e a Sociedade de Socorros Mútuos Princesa
do Sul (1908), em Pelotas. Simultaneamente, apareceu o que se denomina imprensa
negra: jornais publicados por negros e elaborados para tratar de suas questões.
Para um dos principais dirigentes negros da época, José Correia Leite, “a
comunidade negra tinha necessidade de uma imprensa alternativa”, que
transmitisse “informações que não se obtinha em outra parte”. Em São Paulo, o
primeiro desses jornais foi A Pátria, de 1899, tendo como subtítulo Orgão dos
Homens de Cor. Outros títulos também foram publicados nessa cidade: O Combate,
em 1912; O Menelick, em 1915; O Bandeirante, em 1918; O Alfinete, em 1918; A
Liberdade, em 1918; e A Sentinela, em 1920. No município de Campinas, O
Baluarte, em 1903, e O Getulino, em 1923. Um dos principais jornais desse
período foi o Clarim da Alvorada, lançado em 1924, sob a direção de José
Correia Leite e Jayme Aguiar. Até 1930,
contabiliza-se a existência de,
pelo menos, 31 desses jornais
circulando em São Paulo. A imprensa
negra conseguia reunir um grupo representativo de pessoas para empreender a
batalha contra o “preconceito de cor”, como se dizia na época. Surgiram jornais
dessa mesma natureza em outros estados, como a Raça (1935), em Uberlândia/MG, o
União (1918), em Curitiba/PR, O Exemplo (1892),
em Por to Alegre/RS, e o
Alvorada, em Pelotas/RS. Este último –
publicado com pequenas interrupções de 1907 a 1965 – foi o periódico da
imprensa negra de maior longevidade no país. Esses jornais enfocavam as mais
diversas mazelas que afetavam a população negra no âmbito do trabalho, da
habitação, da educação e da saúde, tornando-se uma tribuna privilegiada para se
pensar em soluções concretas para o problema do racismo na sociedade
brasileira. Além disso, as páginas desses periódicos constituíram veículos de
denúncia do regime de “segregação racial” que incidia em várias cidades do
país, impedindo o negro de ingressar ou
freqüentar determinados hotéis, clubes, cinemas, teatros, restaurantes, orfanatos,
estabelecimentos comerciais e religiosos, além de algumas escolas, ruas e
praças públicas. Nesta etapa, o movimento negro organizado era desprovido de
caráter explicitamente político, com um programa definido e projeto ideológico
mais amplo. Na década de 1930, o movimento negro deu um salto qualitativo, com
a fundação, em 1931, em São Paulo, da Frente Negra Brasileira (FNB),
considerada a sucessora do Centro Cívico Palmares, de 1926. Estas foram as
primeiras organizações negras com reivindicações políticas mais deliberadas. Na
primeira metade do século XX, a FNB foi a mais importante entidade negra do
país. Com “delegações” – espécie de
filiais – e grupos homônimos em diversos estados (Rio de Janeiro, Minas Gerais,
Espírito Santo, Pernambuco, Rio Grande do Sul
e Bahia), arregimentou milhares de “pessoas de cor”, conseguindo
converter o Movimento Negro Brasileiro em movimento de massa. Pelas estimativas
de um de seus dirigentes, a FNB chegou a superar os 20 mil associados.
A Frente Negra
Brasileira (FNB) organização política fundada em 1931 atuou ativamente
para arregimentar militantes e converter o Movimento Negro Brasileiro em
movimento de massa, isso anos antes do
surgimento do movimento pelos direitos civis nos EUA (na década de 1950). A FNB
mantinha uma rede de assistência composta por escola, grupo musical e teatral,
time de futebol, departamento jurídico, além de serviço médico e odontológico,
cursos de formação política, de artes e ofícios. Também mantinha um jornal, o A Voz da Raça (1933-1937). Lembrando que estamos falando de um
período anterior a 2ª Guerra Mundial. Com a ditadura do “Estado Novo”, em 1937,
a Frente Negra Brasileira, entre outras organizações políticas, foi extinta. No
contexto do autoritarismo político, em 1943, foi fundada a União dos
Homens de Cor (UHC) em Porto Alegre, a fim de defender os
interesses dxs afro-brasileirxs em âmbito nacional. Em cinco anos de atividade a UHC já havia se espalhara por mais onze estados da
Federação.
No início da
década de 1950, representantes da União dos Homens de Cor foram recebidos em
audiência pelo então Presidente Getúlio Vargas, à época lhe foi apresentada uma pauta de
reivindicações visando melhorar as condições de vida da população negra. Aposto
que não te contaram isso na escola.
No âmbito cultural, outra experiência
importante: o surgimento, em 1944, do Teatro Experimental do Negro (TEN), no
Rio de Janeiro, que tinha Abdias do Nascimento como principal liderança. A
princípio a ideia era formar um grupo
teatral constituído apenas por atores e atrizes
negrxs, pois os “artistas de cor” tinham poucas oportunidades de
trabalho. Mas o TEN se tornou uma experiência cultural tão rica que acabou
atraindo também atores e atrizes brancxs, que se tornaram seus colaboradores. O TEN
também publicava um jornal, o Quilombo.
Aliás, vale repetir que a chamada imprensa
negra foi muito forte nesse período. Pena que a maioria dxs historiadores e
pesquisadores continuem preferindo os
arquivos da grande imprensa (como a Revista O Cruzeiro, tia-avó da Veja) para fundamentar
suas pesquisas históricas, ao invés de recorrer a jornais como o Quilombo. Com isso, perdem a oportunidade de se deparar com preciosidades,
como uma frase de Nelson Rodrigues (colaborador do TEN) publicada na primeira
página do primeiro número de o Quilombo.
Com seu habitual tom provocativo o dramaturgo afirma: "É preciso uma ingenuidade perfeitamente obtusa ou uma má-fé
cínica para se negar a existência do preconceito racial".
Aposto que você conhece muitas frases do
Nelson Rodrigues, exceto esta. Logo no primeiro editorial (1948), o jornal o Quilombo destacava: "(...) a luta
de Quilombo não é somente contra os que negam os nossos direitos, senão em
especial para lembrar ou conhecer ao próprio negro os seus direitos à vida e à
cultura. O negro rejeita a piedade e o filantropismo aviltantes e luta pelo seu
direito ao Direito".
Imagem do jornal Quilombo
Nos anos de
1950, a ideologia, a prática e o discurso do Movimento Negro, capitaneado por
entidades como TEN e UHC, contava com a
simpatia e adesão de muitos intelectuais.
Na mesma época, nos EUA, começavam as mobilizações dxs afro-americanxs para a instituição
de direitos civis igualitários. Movimento que tinha como pauta o fim da segregação
das escolas públicas, que em 1954 contou com o apoio do Supremo Tribunal dos
Estados.
Manifestante sendo presa por protestar pelos direitos civis em Birmingham, Alabama, EUA,
1963.
A década de 1950
marcou também o período de internacionalização das lutas étnicas, contra o
colonialismo e imperialismo. Um momento de construção de alianças entre intelectuais africanxs,
europeus e norte/latinx-americanxs.
No âmbito
nacional, o TEN foi decisivo na defesa dos
direitos civis dxs afro-brasileirxs, lutando pela criação de uma legislação antidiscriminatória
no país. Com o avanço das conquistas dos grupos étnicos em todo mundo, o TEN
acabou se alinhando (internacionalmente) com as propostas do "Movimento Negro Francês" que, à época, lutava pela descolonização da África e independência das nações
africanas. De acordo com o historiador Elio Chaves Flores, essa influência
levou “a intelectualidade negra se defronta com a descolonização africana, passando a refletir sobre os dois lados do
Atlântico (a África e a Diáspora).” Processo que foi denominada de “jacobismo
negro” pelo historiador. Abdias Nascimento,
Guerreiro Ramos e outros militantes do TEN buscaram dialogar com a esquerda entre as décadas de 1940 e 1960. Anos antes do surgimento dxs
“Panteras Negras” (fundado em 1966), o TEN já buscava intercalar luta racial com luta de classe, defendendo que a questão racial era vital para luta trabalhista no Brasil e pautando a descolonização
da África nos debates políticos da esquerda brasileira.
Mais uma vez, a
marcha do movimento negro foi interrompida por uma ditadura. Em 1964, com
instauração da ditadura militar o TEN foi hostilizado pela censura, sendo extinto em 1968, quando sua principal liderança, Abdias do Nascimento, foi
para o exílio nos Estados Unidos. Além de cercear a mobilização do movimento negro, xs militantes passaram a ser acusados, pela ditadura,
de desunir a nação, pois o discurso do regime era de que não existia racismo no Brasil.
Especialmente, na ditadura militar o discurso da “democracia racial” serviu de
trunfo para manutenção das desigualdades raciais. A negação do racismo somada
ao autoritarismo jogou a população afro-brasileira no ostracismo.
E como tudo que
diz respeito à ditadura militar no Brasil é sempre mais perverso do que
imaginamos. Os governos militares trataram de estabelecer estruturas hierárquicas bastantes sólidas, as
quais o Movimento Negro, na atualidade, tem questionado com reivindicação de
políticas afirmativas, como as cotas raciais no ensino superior.
Convém lembrar
que reformas do sistema educacional ocorridas no período militar estabeleceram
o modelo de ensino superior vigente no país. O projeto era “universalizar” o
sistema educacional (ensino primário, fundamental e médio), mantendo o ensino
superior a parte. Ora, inicialmente as universidades foram os principais pólos
de resistência à ditadura. À medida que os intelectuais e professores
progressistas foram sendo presos e exilados os outros, os mais reacionários,
tomaram conta das instituições de ensino superior. Ao mesmo tempo, a instituição de vestibulares unificados, classificatórios e objetivos
(com provas de múltipla escolha) assegurou que o ingresso às universidades se
daria unicamente pelo desempenho nas provas. O ensino público universitário
manteve-se gratuito (complementado pela criação de universidades privadas), mas o
recrutamento e a concorrência por vagas no ensino superior acabaram se
restringindo à classe média (principal base de apoio do regime militar). Para
que seus filhos tivessem mais chances de ingressar no ensino superior, as
famílias de classe média passaram a optar pelo ensino privado como via de acesso
ao ensino superior.
A ditadura criou uma fórmula perversa: o acesso às universidades passou a ser mediado por um processo seletivo altamente excludente, que requeria dx candidatx uma educação de alta qualidade, ao mesmo tempo essa educação de alta qualidade não era oferecida aos setores subalternos. Podemos chamar isso de cotas raciais e sociais, uma vez que as universidades (sobretudo os cursos de maior prestígio social) se tornaram reduto dos jovens de famílias de alta renda e na sua maioria brancos. Diga-se de passagem, os setores conservadores foram bastante beneficiados por esse sistema de “cotas para elite”. Com vestibulares altamente excludentes os setores que não tinham acesso à educação de boa qualidade ( isto é, a população pobre, campesina ou negra) eram, de saída, “carta fora do barralho”, assim a disputa por vagas nas universidades limitava-se à classe que apoiava a ditadura. Certamente havia exceções, mas ao instituir esse processo de recrutamento rígido o regime militar exacerbou o elitismo das instituição de ensino superior. Elitismo que funcionou como barreira de classe e de cor impedindo e restringindo a ascensão social. Em meio ao autoritarismo e conservadorismo deste período eis que surgi a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1971, instituindo a formação educacional de cunho profissionalizante para os setores subalternos. Os autoritários adoram esse tipo de divisão social do trabalho, onde as elites (de preferência conservadoras) controlam a produção intelectual e técnico - cientifica (o conhecimento); enquanto os setores subalternos aplicam-se ao trabalho servil.
A ditadura criou uma fórmula perversa: o acesso às universidades passou a ser mediado por um processo seletivo altamente excludente, que requeria dx candidatx uma educação de alta qualidade, ao mesmo tempo essa educação de alta qualidade não era oferecida aos setores subalternos. Podemos chamar isso de cotas raciais e sociais, uma vez que as universidades (sobretudo os cursos de maior prestígio social) se tornaram reduto dos jovens de famílias de alta renda e na sua maioria brancos. Diga-se de passagem, os setores conservadores foram bastante beneficiados por esse sistema de “cotas para elite”. Com vestibulares altamente excludentes os setores que não tinham acesso à educação de boa qualidade ( isto é, a população pobre, campesina ou negra) eram, de saída, “carta fora do barralho”, assim a disputa por vagas nas universidades limitava-se à classe que apoiava a ditadura. Certamente havia exceções, mas ao instituir esse processo de recrutamento rígido o regime militar exacerbou o elitismo das instituição de ensino superior. Elitismo que funcionou como barreira de classe e de cor impedindo e restringindo a ascensão social. Em meio ao autoritarismo e conservadorismo deste período eis que surgi a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1971, instituindo a formação educacional de cunho profissionalizante para os setores subalternos. Os autoritários adoram esse tipo de divisão social do trabalho, onde as elites (de preferência conservadoras) controlam a produção intelectual e técnico - cientifica (o conhecimento); enquanto os setores subalternos aplicam-se ao trabalho servil.
Cronicamente Inviável
Direção: Direção: Sergio Bianchi, filme 2000.
É...A ditadura foi muito ruim para o Brasil, mas
foi pior para xs afro-brasileirxs. Além de serem impedidxs de se organizar para
lutar por seus direitos, foram subjugadxs e excluídxs socialmente.
Literalmente, um atraso de vida!
No final da
década de 1970, no bojo da reorganização dos movimentos populares, sindical e
estudantil, ocorreria a retomada da luta contra a discriminação racial com fundação
do Movimento Negro Unificado (MNU), o marco
institucional dessa a volta à cena política.
Essa digressão ilustra como a realidade racial e a luta política do
Movimento Negro no Brasil são singulares. Luta que, ao contrário do que alguns
afirmam, não foi transplantada do contexto dos EUA para o Brasil, mas surgiu
aqui mesmo, em função do nosso racismo doméstico e a desigualdade para qual os
governantes, desde o século XIX, vêm fechando os olhos e teimando em negar. É
preciso que se diga isso, pois o discurso da “democracia racial”, trunfo dos
governos e setores conservadores na manutenção das desigualdades raciais, tornou o racismo um problema de "origem estrangeira". Tem gente que defende que no
Brasil o racismo é “brando”, limita-se as relações interpessoais e não tem nada
ver com a intolerância racial testemunhada na África do Sul ou nos EUA.
O que pede políticas de cunho social ao invés de racial. Ora, xs afro-brasileirxs não tem sido beneficiadxs nem por políticas raciais, nem por políticas sociais capazes de tirá-lxs da situação de vulnerabilidade social na qual se encontram desde o fim da escravidão.
O estado brasileiro tem participado ativamente do processo de exclusão da população negra. Indeferindo sistematicamente suas reivindicações de acesso a certos recursos oferecidos pelo estado (como educação de qualidade). Justamente os recursos que poderiam tirá-la de uma posição subalterna. Ao mesmo tempo, o estado (via regimes autoritários) tem resguardado e direcionados os recursos almejados pelxs afro-brasileirxs para setores (convenientemente) compostos por indivíduos brancos. Sob escudo da “democracia racial”, isto é, a defesa de que a dinâmica da colonização e da miscigenação genética trataram de resolver nossos problemas raciais, o estado brasileiro deixou se institucionalizar e institucionalizou a exclusão, a repressão e a violência baseada no critério racial. Ou alguém tem dúvida de que o racismo policial, no Brasil, é uma instituição sólida? Como disse Roberto DaMata o "Brasil não é para amadores" e, definitivamente, o racismo à brasileira não é coisa de amador.
O estado brasileiro tem participado ativamente do processo de exclusão da população negra. Indeferindo sistematicamente suas reivindicações de acesso a certos recursos oferecidos pelo estado (como educação de qualidade). Justamente os recursos que poderiam tirá-la de uma posição subalterna. Ao mesmo tempo, o estado (via regimes autoritários) tem resguardado e direcionados os recursos almejados pelxs afro-brasileirxs para setores (convenientemente) compostos por indivíduos brancos. Sob escudo da “democracia racial”, isto é, a defesa de que a dinâmica da colonização e da miscigenação genética trataram de resolver nossos problemas raciais, o estado brasileiro deixou se institucionalizar e institucionalizou a exclusão, a repressão e a violência baseada no critério racial. Ou alguém tem dúvida de que o racismo policial, no Brasil, é uma instituição sólida? Como disse Roberto DaMata o "Brasil não é para amadores" e, definitivamente, o racismo à brasileira não é coisa de amador.
Retorno a
história recente do país para contemplar Morgan Freeman e colocar um ponto
final nessa “História de racismo”. Com o processo de redemocratização do Brasil
o Movimento Negro se rearticulou. A década de 1990 foi, em especial, de
mobilização social, em 20 de novembro de 1995, a Marcha Zumbi dos Palmares
reafirmou as bandeiras de lutas antigas que, em tempos de desemprego --- como foi a
década de 1990---, foram atualizadas. Repetindo o gesto realizado na Primeira República pela comissão de libertos que entregou a Rui
Barbosa (Ministro da Fazenda) a carta reivindicando
o repasse dos recursos do fundo de emancipação para educação dos seus filhos. Gesto repetido
novamente em 1950, quando representantes da União dos Homens de Cor foram
recebidos em audiência pelo então Presidente Getúlio Vargas e apresentaram suas reivindicações para para população "de cor". Os representantes da Marcha Zumbi dos Palmares solicitaram uma audiência
com o então presidente FHC a quem entregaram o “Programa de superação do
racismo e da desigualdade racial”, um conjunto de reivindicações e propostas
para solucionar a desigualdade racial no Brasil.
Dito isso, vale
recobrar a discussão inicial. Para que Dia da Consciência Negra? Para relembrar a luta de Zumbi dos Palmares por liberdade; a luta de João Cândido por
Direitos Humanos; a luta da comissão dos libertos de Vassouras por educação para seus filhos; a luta da Frente Negra Brasileira, da União dos
Homens de Cor, do Teatro Experimental do Negro e do MNU pelo fim da desigualdade racial. Uma data para lembrar protagonistas e fatos
que não costumam ser mencionados nos livros de história, nem ensinados nas
escolas. As datas comemorativas, assim como os monumentos, são recursos de
manutenção da memória coletiva. Nesse caso, o Dia da Consciência Negra,
comemorado no dia 20 de novembro, aniversário de morte de Zumbi dos Palmares, às vésperas de comemoração da Revolta da Chibata (iniciada 22 novembro de 1910) é
uma data de grande significado que sintetiza todas as lutas dxs excluídxs e esquecidxs do âmbito da história oficial e dos
direitos sociais.
Mas parece que para
os setores conservadores não basta a
exclusão social sistemática dxs afro-descendentes é preciso apagar da memória coletiva nosso
legado de lutas e resistência. Do contrário, o Dia da Consciência Negra não
teria se tornado objeto de oposição e escárnio.
Esse
estardalhaço contra o Dia da Consciência Negra e complementado pelo culto à
memória dos algozes do povão. Raposo Tavares massacrou nações indígenas inteiras.
Estima-se que os bandeirantes paulistas capturaram
e exterminaram cerca de 60 mil índios. Feitos que lhes renderam homenagens inquestionáveis, além de nomes estampados em placas de avenidas e rodovias. Floriano Peixoto, um dos
governantes mais sanguinários que o Brasil já teve mudou o nome da Ilha do
Desterro para Florianópolis, uma auto-homenagem para celebrar o massacre dos
rebeldes da Revolta da Armada. Mas o culto à memória e a monumentalização de
figuras desprezíveis (caçadores de índio, militares torturadores, políticos
corruptos) não causa mal estar.Não se observa objeções aos heróis nacionais que enaltecem a
face intolerante e conservadora da nossa sociedade. Daí a importância do Dia da Consciência Negra,
o contraponto incômodo que celebra outros heróis, outra história, aquela
excluída dos livros e que alguns desejam excluir da memória coletiva.
Não vivemos em
uma sociedade igualitária. Não vivemos em uma sociedade justa. As pessoas são
discriminadas pela cor da pele, pela classe social, pela região de origem. Não
vivemos numa democracia racial, nem somos uma sociedade pós-racismo.
Diante disso, só me
resta lamentar pelo discurso de Morgan Freeman. Parar de falar em racismo? É isso que os poderosos e conservadores sempre esperaram de nós negrxs. Para quem é favorecido pelas desigualdades (incluindo a racial) é um péssimo negócio colocá-las em debate. Discutir racismo é discutir o status quo... Certamente é por isso que o discurso de Morgan Freeman se tornou um trunfo para os que defendem a manutenção da hierarquia social.
Dificilmente um moleque negro que vive numa periferia brasileira seria assim tão otimista em relação aos “efeitos terapêuticos do silêncio sobre o racismo”. Morgan Freeman pode, mas não quer falar de racismo, prefere silenciar. Enquanto, outrxs menxs sortudxs só têm o silêncio como opção. Ao garoto negro abordado pela polícia com arma na cabeça, tapa na cara e xingamentos como "negro safado" só resta o silêncio. Nessas circunstâncias, uma “palavra torta” é um tiro na cabeça. Racismo + Silêncio! Esta é fórmula da PAZ SEM VOZ.
Dificilmente um moleque negro que vive numa periferia brasileira seria assim tão otimista em relação aos “efeitos terapêuticos do silêncio sobre o racismo”. Morgan Freeman pode, mas não quer falar de racismo, prefere silenciar. Enquanto, outrxs menxs sortudxs só têm o silêncio como opção. Ao garoto negro abordado pela polícia com arma na cabeça, tapa na cara e xingamentos como "negro safado" só resta o silêncio. Nessas circunstâncias, uma “palavra torta” é um tiro na cabeça. Racismo + Silêncio! Esta é fórmula da PAZ SEM VOZ.
Minha Alma, O Rappa
Autoria: Geni-Joga-Pedra
8 comentários:
Excelente texto. Lamento apenas hoje que as cotas raciais não sejam combinadas com o critério social, pois a maioria dos negros que entram na universidade também são ricos e, provavelmente, vão se esforçar pra manter o status quo da desigualdade.
A proposta do Ministério da Educação é intercalar cotas sociais e raciais. Pelo menos é o que parece, já que segundo a nova lei de cotas "determina que todas as 59 universidades federais do país reservem 50% das vagas para alunos que cursaram o ensino médio integralmente na rede pública.
Metade desses estudantes será selecionada considerando exclusivamente o critério da raça." Ou seja, dentro das cotas sociais haverá um corte racial. Acho que com isso os jovens negrxs de baixa renda serão contempladxs. Mas, de fato, a questão não é facilitar a escalada social de alguns negrxs, uma vez acessando estes recursos que vêm sendo negado aos afro-brasileirxs e esse povo que vai para as universidades precisa se comprometer e se tornar agentes de uma mudança social profunda no país. Acabando com as hierarquias que a tanto tempo subjuga a população negra.
Parabéns pelo excelente post.
Parabéns pelo excelente post.
Seu texto veio com todo o reconhecimento dos meus pensamentos atuais em relação a luta negra e no final, com um suspiro lindo!
parabéns pela força e luta!
tô contigo!
Amei esse post, sério, parabéns. Li muita coisa aqui que nunca soube, nunca aprendi. Obrigada!! Divulguei no meu facebook e no meu tumblr esse post, todo mundo tem que ler!
Parabéns! Adorei essa postagem, aprendi muito e você tem razão muita coisa aqui não se vê na escola.
Meus parabéns irmã
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