11 de março de 2014

Quando a gente deixou de achar graça um do outro...

Quando a gente deixou de achar graça um do outro... Esses dias me peguei pensando em que momento deixamos de achar graça um do outro. Tentei identificar uma data precisa e não consegui, assim passei a elencar quais eram as nossas manias e costumes e, quando, pouco a pouco, fomos deixando de praticá-las, não achando mais graça em nada disso. Lembrei de como eu ria da sua incapacidade de achar as chaves de casa, a carteira, o celular. Lembrei de como você tirava sarro da minha procrastinação no trabalho. Lembrei que cozinhávamos juntos e eu sempre queria comandar tudo, então, você ria e me cutucava criticando a teoria e a prática do feminismo. Lembrei que eu sempre te chamava na cama para dar um beijo de bom dia, você sempre acordava mais cedo e me chamava de dorminhoca. Lembrei de como eu achava graça da sua obstinação e disciplina. Lembrei que achamos graça de tudo isso e, não sei exatamente quando, deixamos de sentir. Mas sabe o que acho que foi marcante? Foi quando deixamos de achar graça em ir ao samba juntos. Esse foi o fim. Nós adorávamos, mas depois perdeu a graça. Quero deixar claro que me lembro disso tudo com alegria e sem saudosismo. Tem muita gente que nunca passou por isso. Nunca achou graça e vive até hoje só com a irritação de não rir, de não compartilhar com o outro. Demorei tanto para escrever sobre isso. Demorei porque não me sentia pronta para colocar no papel. Demorei porque foi difícil admitir para mim mesmo que passou e, eu, ando com vontade de achar graça em outra pessoa.