A mesma ira desenfreada testemunhada em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023 agora se volta contra os corpos das mulheres, transformados em território a ser tomado pela força, depredado, saqueado de direitos e obrigado a se submeter à vontade da bancada da extrema direita. Desde aquele fatídico domingo, as ações bolsonaristas têm como objetivo destruir o direito de decidir e instaurar um clima de terror. O direito de decidir quem governa o país. O direito decidir quem governa o corpo feminino: se a própria mulher ou o Estado.
O fim do aborto legal não trata apenas de fetos, mas de uma guerra silenciosa contra a individualidade, a liberdade e autonomia das mulheres, uma tentativa de sequestro dos direitos femininos para negociar. Comparar o bolsonarismo a grupos terroristas não é um exagero, mas um reconhecimento dos paralelos perturbadores: como o uso da violência como método, o controle social como objetivo e a instrumentalização da dor como moeda de troca. Assim como terroristas utilizam civis como escudos humanos, a bancada bolsonarista instrumentaliza os direitos constitucionais das brasileiras para barganhar anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. A manutenção do direito ao aborto em casos de estupro, anencefalia ou risco de vida da gestante é usada como chantagem: anistiem os terroristas, ou mulheres vulneráveis pagarão o preço. Essa cruel troca política carrega a marca de práticas terroristas, mas com um toque ainda mais insidioso: transformar o sofrimento das mulheres em arma para impor a vontade de criminosos.
Revogar o aborto legal é mais do que um ataque aos direitos reprodutivos; é um projeto de controle absoluto, que ignora os riscos à saúde física e mental das mulheres. Neste cenário, o corpo feminino torna-se uma nova Praça dos Três Poderes, sitiada pela brutalidade de uma ideologia que busca impor sua visão de mundo à força.E a retórica moralista, travestida de preocupação com "criancinhas indefesas", não passa de oportunismo.
Se a vida das crianças fosse realmente sagrada, o governo de Bolsonaro não teria enfraquecido medidas essenciais, como a obrigatoriedade do uso de cadeirinhas infantis, que salvam vidas há décadas. Esse discurso moralista não visa proteger crianças, mas invadir a vida de cada mulher, subjugá-la, apagando sua liberdade de escolha—assim como tentou anular a vontade da maioria dos brasileiros nas urnas.
Assim como o terrorismo, o bolsonarismo utiliza o medo como ferramenta política. Seu objetivo é desestabilizar, coagir e eliminar a capacidade das mulheres—e, mais amplamente, dos cidadãos—de fazer escolhas livres e autônomas. É uma agenda de controle, onde a liberdade é substituída pela sujeição.
Esse ataque aos direitos reprodutivos das mulheres expõe uma contradição central do bolsonarismo: apesar de seus discursos que reivindicam liberalismo, suas ações desmentem qualquer compromisso com ela. Negar às mulheres o direito de decidir sobre seus corpos é a antítese da liberdade individual, transformando a autonomia pessoal em um alvo de controle autoritário. O bolsonarismo não tem nada liberal; é um projeto que apenas instrumentaliza o conceito de liberdade para justificar a opressão, enquanto silencia escolhas e impõe uma moral única. Defender o direito das mulheres à autonomia é reafirmar que a verdadeira liberdade só existe onde cada indivíduo pode governar a si mesmo, livre da coerção de um Estado que se coloca como dono de corpos e destinos.
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