O filme Lanternas Vermelhas, dirigido por Zhang Yimou, é uma obra densa que aborda questões de gênero, poder e identidade dentro de uma sociedade patriarcal rigidamente hierarquizada. As protagonistas do filme lidam com as imposições sociais que moldam suas identidades e corpos dentro do contexto opressivo do clã Chen. No universo de Lanternas Vermelhas, as esposas e concubinas do patriarca são obrigadas a desempenhar papéis específicos de feminilidade para agradá-lo e garantir sua sobrevivência social e econômica.
A protagonista Songlian, ao se tornar a quarta esposa do senhor Chen, é inserida em um sistema de competição que exige dela a performance de esposa subserviente e sedutora. O acender das lanternas vermelhas para a esposa favorecida simboliza não apenas o controle do patriarca, mas também a necessidade de conformidade às normas de gênero que definem o valor das mulheres em relação à aprovação masculina.
Songlian, frequentemente, desafia as regras, mas, ao mesmo tempo, é forçada a participar desse jogo das lanternas, mesmo quando contestado, permanece difícil de escapar. No clã Chen, os corpos das mulheres são transformados em anexo do domínio do soberano territórios de controle. Esses corpos são construídos e regulados por normas sociais que ditam o que é aceitável ou desejável naquele ambiente. No filme, o controle do patriarca sobre os corpos das esposas é literal e simbólico: o ato de escolher com quem passará a noite não é apenas uma questão de desejo, mas também de poder. O acender ou apagar das lanternas sinaliza quem será valorizada ou ignorada, reforçando a relação entre poder e subjugação. Além disso, as personagens femininas são constantemente colocadas umas contra as outras, perpetuando um sistema que impede a solidariedade entre elas. Essa dinâmica reflete o que Judith Butler chama de fragmentação de resistências sob regimes de poder opressivos, nos quais as mulheres se tornam tanto vítimas quanto agentes de manutenção das normas patriarcais.
Butler e outras estudiosas do feminismo propõem que as normas de gênero são mantidas por meio de coerção, e Lanternas Vermelhas exemplifica isso de maneira clara. A violência psicológica e física imposta às mulheres que transgridem as regras do clã ilustra como essas normas não são sustentadas apenas por expectativas sociais, mas também por punições concretas.
Um exemplo central no filme é a personagem da terceira esposa, que desafia as normas do clã ao buscar amor fora do casamento. Sua punição é extrema e serve como uma advertência para as outras mulheres. Esse ato evidencia a "violência reguladora" é fundamental para a manutenção das normas de gênero.
Embora o filme seja marcado pela opressão, Songlian demonstra momentos de resistência que podem ser interpretados como atos subversivos. Sua rejeição ao sistema e sua recusa em desempenhar plenamente o papel que lhe foi imposto revelam as fissuras nas normas de gênero que Butler identifica como oportunidades para desestabilizar o poder.
No entanto, a subversão de Songlian é limitada pelas estruturas que a cercam. Ao final, sua resistência resulta em isolamento e, possivelmente, loucura, destacando o custo elevado da tentativa de desafiar as normas dentro de um sistema tão rigidamente controlado.
Por fim, o espaço físico da mansão também pode ser analisado sob a ótica da performance do gênero. Os pátios, corredores e quartos funcionam como palcos onde as performances de gênero são encenadas e observadas. A presença constante de servos e o olhar do patriarca reforçam a vigilância que sustenta o sistema, onde as normas são perpetuadas pela repetição e pela observação social.
Lanternas Vermelhas pode ser entendido utilizado em atividades escolares como um recurso para ensinar sobre sistema patriarcal, desigualdade de gênero, performatividade de gênero e o impacto das normas patriarcais nos corpos e identidades das mulheres.
Proposta de Atividade Educativa:
Organize uma sessão de exibição do filme Lanternas Vermelhas (duração: 2h 5m), uma atividade extracurricular ideal para um Cine Debate fora do horário de aula. Essa iniciativa é perfeita para atrair um público interessado em discutir questões sociais, podendo ser realizada como parte de um "Clube do Cinema" ou de uma reunião de um Coletivo Feminista escolar.
Sua escola já tem iniciativas como Sessões de Cine Debate, Clubes do Livro, Clubes de Cinema ou um Coletivo Feminista? Não? Então, que tal começar a organizar atividades extracurriculares? Essas ações podem criar um espaço de diálogo, reflexão e engajamento, envolvendo os estudantes em debates ricos sobre temas como desigualdade de gênero, cultura e sociedade. É uma oportunidade incrível de estimular o pensamento crítico e a troca de ideias e a cidadania!
Após a exibição (ou trechos) do filme Lanternas Vermelhas, organize um debate interativo que envolva diferentes formatos e estratégias para engajar os participantes. A ideia é criar um ambiente acolhedor, onde todos se sintam à vontade para expressar suas ideias.
1. Estrutura do Debate (30-40 minutos)
Quebra-gelo inicial (5 minutos): Comece com uma pergunta rápida e aberta para aquecer a discussão. Exemplo: “O que mais chamou sua atenção no filme? Por quê?”
- Peça que os participantes compartilhem suas impressões em uma frase curta. Isso ajuda a criar um clima de inclusão desde o início.
2.Divisão em pequenos grupos (10 minutos):
- Separe os participantes em pequenos grupos (3 a 5 pessoas) e distribua perguntas temáticas. Cada grupo terá alguns minutos para discutir e depois compartilhar um resumo com os demais.
Perguntas para os grupos:
- “Como o sistema patriarcal mostrado no filme afeta a vida das mulheres e a relação entre elas?”
- “Existem paralelos entre a realidade retratada no filme e situações que você conhece na sociedade atual?”
- “Você percebe alguma forma de resistência das personagens ao sistema? Quais foram as consequências?”
3. Sessão plenária (15 minutos):
- Traga as ideias dos grupos para uma discussão coletiva.
- Use as respostas como ponto de partida para aprofundar os temas.
Pergunte:
- “Como podemos relacionar os simbolismos do filme (como as lanternas) com situações contemporâneas de desigualdade de gênero?”
- “A competição entre as esposas no filme foi incentivada pelo patriarcado. Que estratégias poderiam ser usadas para construir solidariedade entre elas?”
Dinâmica interativa: Papel invertido (10 minutos)
- Peça que os participantes imaginem um cenário em que as regras da mansão fossem diferentes:
- E se as mulheres unissem forças contra o patriarca?
- E se cada esposa tivesse liberdade para decidir como conduzir sua própria vida?
4. Divida a plateia em grupos e peça para que criem um breve “final alternativo” para o filme, representando como seria se as personagens dessem um passo em direção à liberdade ou à solidariedade. Depois, convide voluntários para compartilhar suas ideias.
5. Encerramento com reflexão (5 minutos):
- Finalize o debate com uma pergunta reflexiva, que conecte o tema do filme à vida dos participantes:
- “Após assistir ao filme e discutir suas questões, o que você acha que podemos fazer para combater as desigualdades de gênero em nossa sociedade?”
6. Sugira que cada participante reflita sobre ações ou pequenas mudanças que podem promover a igualdade no dia a dia.
7. Dicas para engajar o público:
- Seja uma mediadora dinâmica, alguém que saiba equilibrar a conversa, incentivando quem ainda não falou e mantendo o foco nos temas.
- Utilize tecnologia, incorpore mídias, exiba imagens ou vídeos curtos de situações reais de desigualdade de gênero para enriquecer a discussão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário