16 de dezembro de 2010

No último dia  13 faleceu  a professora Heleieth Saffioti estudiosa e  autora de livros sobre a situação  das mulheres no Brasil, entre suas obras mais conhecidas destaco A Mulher na Sociedade de Classes Mito e Realidade (1979), Mulher Brasileira: Opressão e Exploração (1984). Sem dúvida, uma grande perda!

Foto: Heleieth Saffioti

1 de dezembro de 2010

Viva WikiLeaks!

WikiLeaks é um site que tem promovido o vazamento de documentos secretos do governo norte-americano. O WikiLeaks começou a ser notícia em meados deste ano, ao  divulgar um vídeo no qual militares dos Estados Unidos fuzilam iraquianos de um helicóptero. Agora, foi o conteúdo de   documentos, telegramas  e e-mails que vazou estão disponíveis na rede mundial de computadores, revelando o que pensa e como age  "diplomacia americana". Infelizmente a imprensa brasileira tem uma abordagem rasa dos documentos publicados. Como sempre, as análises estão concentradas em torno da questão: "o que os estrageiros pensam da gente", "do nosso governo", "dos políticos brasileiros", "do Itamarati", "das mulheres brasileiras", "do samba".... Comportamento típico da "impresa preoucupado com Brasil para inglês ver". O fato é que o conteúdo destes documentos expõem muito mais do que opiniões pessoais à respeito deste ou daquele presidente. O que deveria estar em pauta não é o que eles pensam de nosso país e sim os planos deles para o Brasil e o resto do mundo. Ainda que os americanos seja mais arrogantes do que competentes, sobretudo no que diz respeito à ardua tarefa de influenciar a política e economia mundial,  os documentos trazidos à publico pelo WikiLeaks revela aquilo que de alguma forma a gente já sabia: embora discursem aos quatro ventos sobre soberania, democracia, direitos humanos  e liberdade, a única soberania, democracia, os únicos direitos e liberdade  que os governantes norte-americanos prezam são os deles mesmos. Não estamos falando do povo norte-americano, mas da classe política americana, composta majoritariamente de playboys, Cowboys, generais, burocratas e hippies arrependidos. Ao invés de se preocupar com que a classe política norte-americana pensa da gente, a imprensa deveria pautar o que eles querem da gente.... A julgar pelos documentos expostos no WikiLeaks boa coisa não é.

12 de outubro de 2010

QUANDO OS SERRAS DA VIDA ABREM FOGO


Será que os Serras da vida não sabem que estão abrindo fogo contra gente sem defesa, que morre aos montes por falta de assistência e clemência?
Será que os Serras da vida sabem quantas mulheres morrem todos os anos no Brasil por abortamentos mal feitos enquanto eles posam de defensores da vida?
Será que os Serras da vida submetem essas mulheres à clandestinidade e à marginalidade para que, em momentos como este, de disputa política, possam substituir o debate de plataformas políticas pelo embate de moralidades, onde a moral dele próprio se destaca como mais legitima do que à dos que estão à margem?
Quem está morrendo sem assistência e clemência não precisa “levar mais chumbo”, é covardia...
Quem ficou mutilada (física e psicologicamente) porque fez aborto de qualquer jeito, porque só assim para interromper gravidez no Brasil, quem já foi punida pela precariedade gerada pela clandestinidade não precisa de um presidente que lhe coloque na mira do seu discurso moralista transvestido de patriótico...
Quem defende a vida dessas mulheres não precisa do desserviço prestado pelos Serras da vida...

EDUCAÇÃO SEXUAL & CONTRACEPTIVO

PARA NÃO ABORTAR

ABORTO LEGALIZADO

PARA NÃO MORRER.





ABORTO

A MULHER DECIDE

A SOCIEDADE RESPEITA A DECISÃO.

E O ESTADO GARANTE.






30 de agosto de 2010

Maria Farrar de Bertold Brecht



Maria Farrar, nascida em abril, sem sinais particulares, menor de idade, orfã, raquítica, ao que parece matou um menino da maneira que se segue, sentindo-se sem culpa. Afirma que grávida de dois meses no porão da casa de uma dona tentou abortar com duas injeções dolorosas, diz ela, mas sem resultado. E bebeu pimenta em pó com álcool, mas o efeito foi apenas de purgante. Mas vós, por favor, não deveis vos indignar. Toda criatura precisa da ajuda dos outros.


Seu ventre inchara, agora a olhos vistos e ela própria, criança, ainda crescia. E lhe veio a tal tonteira no meio do ofício das matinas e suou também de angústia aos pés do altar. Mas conservou em segredo o estado em que se achava até que as dores do parto lhe chegaram. Então, tinha acontecido também a ela, assim feiosa, cair em tentação. Mas vós, por favor, não vos indigneis. Toda criatura precisa da ajuda dos outros.

Naquele dia, disse, logo pela manhã, ao lavar as escadas sentiu uma pontada como se fossem alfinetadas na barriga. Mas ainda consegue ocultar sua moléstia e o dia inteirinho, estendendo paninhos, buscava solução. Depois lhe vem à mente que tem que dar à luz e logo sente um aperto no coração. Chegou em casa tarde. Mas vós, por favor, não vos indigneis. Toda criatura precisa da ajuda dos outros.

Chamaram-na enquanto ainda dormia. Tinha caído neve e havia que varrê-la, às onze terminou. Um dia bem comprido. Somente à noite pode parir em paz. E deu à luz, pelo que disse, a um filho mas ela não era como as outras mães. Mas vós, por favor, não vos indigneis. Toda criatura precisa da ajuda dos outros.

Com as últimas forças, ela disse, prosseguindo, dado que no seu quarto o frio era mortal,se arrastou até a privada, e ali, quando não mais se lembra, pariu como pôde quase ao amanhecer. Narra que a esta altura estava transtornadíssima, e meio endurecida e que o garoto, o segurava a custo pois que nevava dentro da latrina. Entre o quarto e a privada o menino prorrompeu em pratos e isso a perturbou de tal maneira, ela disse, que se pôs a socá-lo às cegas, tanto, sem cessar, até o fim da noite. E de manhã o escondeu então no lavatório. Mas vós, por favor, não deveis vos indignar, toda criatura precisa da ajuda dos outros.

Maria Farrar, nascida em abril, morta no cárcere de Moissen, menina-mãe condenada, quer mostrar a todos o quanto somos frágeis. Vós que parís em leito confortável e chamais bendido vosso ventre inchado, não deveis execrar os fracos e desamparados. Por obséquio, pois, não vos indigneis. Toda criatura precisa da ajuda dos outros.


Bertold Brecht

24 de agosto de 2010

A Autoridade


Em épocas remotas, as mulheres se sentavam na proa e os homens na popa. As mulheres caçavam e pescavam. Elas saíam das aldeias e voltavam quando podiam ou queriam. Os homens montavam as choças, preparavam a comida, mantinham acesas as fogueiras contra o frio, cuidavam dos filhos e curtiam as peles de abrigo. Assim era a vida entre os índios onas e yaganes,na Terra do Fogo,até que um dia os homens mataram todas as mulheres e puseram as máscaras que as mulheres tinham inventado para aterrorizá-los.
Somente as meninas recém-nascidas se salvaram do extermínio. Enquanto elas cresciam, os assassinos lhes diziam e repetiam que servir aos homens era seu destino. Elas acreditaram. Também acreditaram suas filhas e as filhas de suas filhas.

Eduardo Galeano.

E se nascer homossexual?

TPM

A posição da Igreja Católica em relação ao aborto



Diário de Bitita

Quando fui trabalhar na casa do farmacêutico Manoel Magalhães, todos estavam alegres por hospedarem seu sobrinho padre Geraldo. Consideravam-se importantes por terem um padre na família. Ele tinha acabado de chegar de Roma, ia rezar uma missa e todo mundo estavam convidado.

Eu não conhecia a casa. Só conhecia a cozinha e o quintal. Quando começou o reboliço lá dentro, eu só ouvia a palavra: “Sumiu! Sumiu! Só pode ter sido ela”. Eu estava estendendo a roupa quando vi chegarem dois soldados.
-Vamos, vamos, vagabunda! Ladra! Nojenta!
Assustei:
- O que aconteceu?
- Ainda pergunta, cara-de-pau! Você roubou dez mil-réis do padre Geraldo.
Era dez horas da manhã. Logo a notícia circulou.
- A Bitita roubou CEM MIL-RÉIS do padre Geraldo.
- Credo! Ela vai pro inferno!
- Vai mesmo, mas antes de ir pro inferno vai pra cadeia.
Foram avisar minha mãe. É a única pessoa que está sempre presente nas alegrias ou desgraças. Doeu quando ela perguntou:
- Você roubou Bitita?
- Não senhora! Eu nunca vi dez mil-reis.
Meu desejo era conhecer uma cédula de dez mil, duzentos, quinhentos e quem sabe até de um conto de reis. Estas nunca tinha visto. Só conhecia as de cinqüenta , vinte, dez, cinco, dois e um mil-reis.
Fui presa por dois soldados e um sargento. Pensei que eles iam me obrigar a percorrer as ruas com as crianças gritando em coro: “- A Bitita roubou dez mil-reis do padre! A Bitita roubou dez mil-reis do padre!”
Naquele dia compreendi que todo negro deveria esperar por isso. Me levaram pra delegacia. Quando o soldado levantou a mão pra me bater o telefone tocou. Era o padre Geraldo avisando que tinha encontrado o dinheiro, que ele mesmo havia escondido num maço de cigarros. Ele não pediu perdão, só mandou a polícia me soltar pra eu voltar pro trabalho.

(Carolina Maria de Jesus, Diário de Bitita)

6 de agosto de 2010

Aborto, a doutrinação do sistema de saúde

Estado Laico e a legalização do aborto

A Clandestinidade

Aborto, cala boca já morreu quem manda no meu corpo sou eu!

Oração de Lilith


Em pé, de frente ao espelho, relembre os momento em que você sentiu-se obrigada a fazer o que não queria. Descubra a parte do teu corpo onde o recentimento ou a vergonha se instalou. Então, em voz alta, repita frases que negam a opressão: Não quero! Não dou! Não admito! Não deixo! Não faço! Faça movimentos com as mãos, como se estivesse arrancando do seu corpo a lembrança. Quando sentir que basta, acalme sua mente e seu coração. Respire fundo e se olhe no espelho, diga quem você, o que você deseja e merece. Reafirme seu próprio ser!

25 de janeiro de 2010

Violência Contra Mulher


O conceito de violência contra a mulher é bastante amplo: inclui "qualquer ato de violência baseado no gênero, qualquer ato que resulte em dano ou sofrimento de natureza física, sexual ou psicológica — inclusive ameaças, coerção ou privação arbitrária de liberdade —, quer ocorram na vida pública ou privada".
A violência contra a mulher engloba diversas formas de agressão, incluindo a violência psicológica, e não apenas a física e a sexual.

EXISTE A VIOLÊNCIA SIMBÔLICA, QUE TRANSFORMA AS MULHERES EM OBJETOS

E A VIOLÊNCIA FÍSICA


Situações que caracterizam violência contra a mulher:

1. Ameaça

Se alguém, por palavras, gestos ou por escrito, amedrontou você — prometendo fazer um mal injusto e grave —, você foi vítima de um crime de ameaça.

Em outras palavras: se alguém ameaçou causar algum mal a você (como estupro, morte, espancamento etc.), pode denunciar. É muito importante frisar essa informação, porque muitas pessoas acreditam que isso não é crime. Ameaça é crime!


2. Atentado violento ao pudor

Se alguém a obrigou a ter contato íntimo contra sua vontade, sem que tenha ocorrido uma relação sexual completa, você foi vítima de um crime de atentado violento ao pudor.

Essa também é importante destacar: aquele homem que fica se "esfregando" em uma mulher no ônibus lotado (desculpem, gente) é um criminoso!


3. Difamação

Se alguém falou contra sua honra, na presença de uma ou mais pessoas, você foi vítima de um crime de difamação.


4. Estupro

Se alguém a obrigou a ter relações sexuais contra sua vontade, você foi vítima do crime de estupro.

Mesmo que seja seu namorado, amante ou até seu marido: foi contra a sua vontade? É estupro!

Se a vítima for menor de 14 anos ou pessoa com deficiência mental reconhecida, caracteriza-se também o crime de estupro, mesmo que não haja sinais visíveis de violência.

Estupro é caracterizado pela relação sexual forçada, com penetração vaginal ou outros atos, praticados com o uso da força, ameaça ou intimidação.


5. Injúria

Se alguém a ofendeu, mesmo que não tenha sido na frente de outra pessoa, você foi vítima do crime de injúria.

Além disso, se você sofreu agressões físicas sem deixar marcas aparentes ou foi expulsa do lar conjugal, também foi vítima desse crime.


6. Lesão corporal

Se alguém lhe deu socos, bofetões, pontapés ou bateu usando objetos que a machucaram ou prejudicaram sua saúde, você foi vítima do crime de lesão corporal.


Em muitas culturas, a violência contra a mulher é tolerada ou justificada, e normas sociais ainda sugerem que a mulher é a culpada pela violência que sofre, simplesmente por ser mulher.


Essas atitudes podem estar presentes até mesmo entre profissionais da saúde e da segurança pública, o que resulta, muitas vezes, em tratamento inadequado ou desrespeitoso — especialmente em casos de violência sexual — quando a vítima busca atendimento médico e psicológico.


É importante lembrar que os atos de violência contra a mulher são mais frequentes do que se imagina e são passíveis de punição perante a lei.

Mas, infelizmente, nem sempre as mulheres têm coragem de denunciar a violência da qual foram vítimas.




Se ele tivesse nascido mulher



Debatendo as diferenças biológicas, psicológicas e culturais entre o feminino e o masculino, quem nunca teve que ouvir da boca de algum machista, orgulhoso de seu gênero: "Por que você acha que todos os grandes pensadores, gênios e cientistas são homens?"

Em certa altura do debate, as teorias evolucionistas e o darwinismo entram em cena para justificar as desigualdades entre homens e mulheres. Enquanto todos os atributos biológicos favorecem a posição de dominador do homem, os "atributos" biológicos das mulheres apenas reforçam os papéis subalternos.
Realmente, mulheres e homens são diferentes, mas essas diferenças não justificam as desigualdades sociais.

Com a palavra, um homem solidário à condição feminina e atento às desigualdades socialmente constituídas. É bom quando podemos contar com os homens na luta diária contra o machismo.

Se Ele Tivesse Nascido Mulher
Dos dezesseis irmãos de Benjamin Franklin, Jane é a que mais se parece com ele em talento e força de vontade. Mas na idade em que Benjamin saiu de casa para abrir seu próprio caminho, Jane casou-se com um seleiro pobre, que a aceitou sem dote, e dez meses depois deu à luz seu primeiro filho. Desde então, durante um quarto de século, Jane teve um filho a cada dois anos. Algumas crianças morreram, e cada morte abriu-lhe um talho no peito. As que viveram exigiram comida, abrigo, instrução e consolo. Jane passou noites a fio ninando os que choravam, lavou montanhas de roupa, banhou montões de crianças, correu do mercado à cozinha, esfregou torres de pratos, ensinou abecedários e ofícios, trabalhou ombro a ombro com o marido na oficina e atendeu os hóspedes cujo aluguel ajudava a encher a panela.
Jane foi esposa devota e viúva exemplar; e quando os filhos já estavam crescidos, encarregou-se dos próprios pais, doentes, de suas filhas solteironas e de seus netos desamparados. Jane jamais conheceu o prazer de se deixar flutuar em um lago, levada a deriva pelo fio de um papagaio, como costumava fazer Benjamin, apesar da idade. Jane nunca teve tempo de pensar, nem se permitiu duvidar. Benjamin continua sendo um amante fervoroso, mas Jane ignora que o sexo possa produzir outra coisa além de filhos. Benjamin, fundador de uma nação de inventores, é um grande homem de todos os tempos. Jane é uma mulher do seu tempo, igual a quase todas as mulheres de todos os tempos, que cumpriu o seu dever nesta terra e expiou parte de sua culpa na maldição bíblica.
Ela fez o possível para não ficar louca e buscou, em vão, um pouco de silêncio. Seu caso não despertará o interesse dos historiadores.

Eduardo Galeano