21 de agosto de 2012

Filmenista: Encantadora de Baleias



Encantadora de Baleias parte em defesa da tradição maoriri



Escolhido pelo júri como o Melhor Filme da Mostra, longa da diretora Niki Caro conta a história de uma menina que contraria seu avô para defender as tradições de seu povo
Camila Agustini
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Em um hospital, diversas pessoas aguardam ansiosamente um parto. Naquele dia nasceria o mais novo descendente de Paikea, o líder ancestral que levou sua tribo à nova terra, na Nova Zelândia, há milhares de anos. O menino é aguardado como o salvador da cultura e preservação de uma comunidade maori.

Mas, as expectativas são frustradas quando a mãe e o menino morrem durante a operação. É por isso que ninguém dá muito valor para a sobrevivência da outra criança - uma menina - irmã gêmea do esperado messias. Contrariando a tradição de seu povo, o pai da menina decide dar a ela o nome do líder ancestral: Paikea. Koro, seu avô e atual líder da comunidade, sofre imensamente a perda da nora e do neto e rejeita a pequena sobrevivente.

Traumatizado pela perda, o pai a deixa aos cuidados dos avós e abandona sua terra para viajar o mundo divulgando a cultura de seu povo. A menina cresce com coragem e persistência incomuns para alguém de tão pouca idade, ainda mais em uma cultura essencialmente machista como a dela.

Seu avô, Koro, contudo, não se recupera da frustração de ter perdido o salvador e não reconhece as qualidades da neta. Ele espera ansiosamente algo que salve sua comunidade. Decidido a tomar uma providência, ele organiza uma escola para passar aos primogênitos da tribo os conhecimentos e tradições de seu povo. A esperança é que o garoto que tiver o melhor desempenho e supere provas de resistência e coragem possa ocupar a liderança vaga.

Pai (como a garota é conhecida) não poderá freqüentar as aulas. Nem ela, nem qualquer outra menina. Só os homens são dignos de tal sabedoria. Mas, a garota é do tipo que não abaixa a cabeça para comandos com os quais não concorda e irá acompanhar escondida as aulas ministradas pelo avô e pedir ao tio - igualmente desprezado - que lhe ensine técnicas de combate.

Como é de se esperar, a menina se revelará a mais corajosa e competente entre aquele grupo de moleques, causando grande desgosto ao avô. E terá que se esforçar muito para ser aceita pelo velho teimoso.

A luta pela preservação da cultura maori e a discussão sobre o papel da mulher numa sociedade patriarcal é o foco da diretora neozelandesa Niki Cairo em seu segundo longa-metragem: "Encantadora de Baleias", que foi o escolhido do júri da 27ª Mostra BR de Cinema como melhor filme.

Niki sabe aproveitar a beleza de seu país e lança mão de uma fotografia primorosa para ambientar sua história. A seu favor, a diretora neozelandesa tem também a força da própria cultura maori com seus mitos e tradições, que por si só, conferem ao filme vigor e intensidade.

Encantadora de Baleias conquista porque revela uma cultura quase desconhecida para o espectador brasileiro. Mas, principalmente, porque contesta com habilidade certos dogmas comuns a outras tribos. Ao centrar sua trama na questão do papel da mulher em uma comunidade patriarcal, Niki supera o drama do pequeno oprimido que prova o seu valor - tão presente nas produções hollywoodianas - e formula uma apologia à persistência e à resistência. 
Publicado originalmente em 31/10/2003

 

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