7 de novembro de 2012

Elas levam a vida nos cabelos



Por mais negros que crucifiquem ou pendurem em ganchos de ferro que atravessam suas costelas, são incessantes as fugas nas quatrocentas plantações da costa do Suriname. Selva adentro, um leão negro flameja na bandeira amarela dos cimarrões. Na falta de balas, as armas disparam pedrinhas ou botões de osso; mas a floresta impenetrável é o melhor aliado contra os holandeses.
Antes de escapar, as escravas roubam grãos de arroz e de milho, pepitas de trigo, feijão e sementes de abóbora. Suas enormes cabeleiras viram celeiros. Quando chegam nos refúgios abertos na selva, as mulheres sacodem as cabeças e fecundam assim, a terra livre.



Eduardo Galeano.





6 de novembro de 2012

A máquina de reprodução da espécie e a pessoa embrião






Na retórica pró-vida mais radical, o embrião é reconhecido como "pessoa desde a concepção", uma entidade dotada de direitos plenos — muitas vezes, superiores aos da mulher que o gesta. Essa inversão  jurídica reduz a mulher a uma máquina, a um útero com pernas, a uma incubadora com existência irrelevante. O valor simbólico e social do embrião cresce na medida exata em que os direitos da mulher são esvaziados, ignorados ou negados.

É nesse cenário que a metáfora da mulher-autômato ganha força: ela caminha, mas não decide. Ela pensa, mas não escolhe, suas ideias não importam. Sua existência social, política, moral se sujeita a vontade externas. O estado que legisla e decide sobre seu corpo sem consultá-la, a religião que impõe valores sem escutá-la, a sociedade que exige sacrifícios sem lhe oferecer direitos equivalentes.

Tratar o embrião como pessoa jurídica plena enquanto se nega à mulher a condição de sujeito de decisão sobre sua própria vida, saúde e maternidade é instaurar uma hierarquia ontológica na qual o a vida em potencial vale mais do que a existência concreta. É legislar a biologia sem ética. É apagar o sofrimento, o contexto, os direitos reprodutivos e os limites da vida real em nome de uma abstração que conforta crenças, mas perpetua injustiças.

Essa inversão também revela uma profunda misoginia estrutural: o embrião só se torna sujeito porque está dentro de um corpo feminino. A luta, então, não é pela vida em si, mas pelo controle do corpo que gera essa vida. A criminalização do aborto, os obstáculos ao acesso a métodos contraceptivos e à educação sexual, a culpabilização da mulher que recusa a maternidade — tudo isso compõe o mesmo sistema simbólico de dominação que transforma mulheres em engrenagens de uma grande máquina biológica chamada "família", "tradição" ou "nação".

Mas a mulher não é meio. Ela é fim em si mesma. Não é corpo público, nem instrumento estatal, nem canal sagrado da fertilidade. Ela é sujeito de desejos, de decisões, de direitos. Reconhecê-la como tal é romper com essa lógica perversa que idolatra o embrião e desumaniza a gestante.

Enquanto persistir essa máquina ideológica de reprodução da espécie — onde a mulher é a engrenagem descartável e o embrião é a obra-prima —, não haverá justiça reprodutiva, nem liberdade real. Haverá apenas silêncio, culpa, controle e dor.









5 de novembro de 2012

Exploração sexual de meninas indígenas





No município amazonense de São Gabriel da Cachoeira, na fronteira do Brasil com a Colômbia, um homem branco compra a virgindade de uma menina indígena com aparelho de celular, R$ 20, peça de roupa de marca e até com uma caixa de bombons. A pedido das mães das vítimas, a Polícia Civil apura o caso há um ano. No entanto, como nenhum suspeito foi preso até agora, a Polícia Federal entrou na investig
ação no mês passado.
Doze meninas já prestaram depoimento. Elas relataram aos policiais que foram exploradas sexualmente e indicaram nove homens como os autores do crime.
Entre eles há empresários do comércio local, um ex-vereador, dois militares do Exército e um motorista.
As vítimas são garotas das etnias tariana, uanana, tucano e baré que vivem na periferia de São Gabriel da Cachoeira, que tem 90% da população (cerca de 38 mil pessoas) formada por índios.
Entre as meninas exploradas, há as que foram ameaçadas pelos suspeitos. Algumas foram obrigadas a se mudar para casas de familiares, na esperança de ficarem seguras.

Leia a reportagem completa aqui:



3 de novembro de 2012

Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres Rosa Luxemburgo

Rosa Luxemburgo 

Estado e agronegócio contra as comunidades indígenas



Outro Olhar - Denúncia de índios Guarani Kaiowá



Liderança Guarani-Kaiowá denuncia mais ameaças de morte em MS




Indígenas Kadiwéu podem ser despejados de terra homologada

Durante a greve da PF, o órgão declarou publicamente não ter contingente para realizar a remoção. Com o fim da paralisação, a situação pode mudar
17/10/2012