9 de setembro de 2011

11 DE SETEMBRO: DIA LEMBRAR UM ATENTADO À DEMOCRACIA.



No dia 11 de setembro de 1973, um avião WB-575 da força área dos EUA, pilotado por militares norte-americanos sobrevoou a cidade de Santiago. Enquanto isso, outros 33 caças da mesma aterrissavam na base aérea de Mendoza, na fronteira da Argentina com o Chile. Essas manobras militares antecederam o ataque aéreo ao Palácio de La Moneda e o assassinato do presidente Salvador Allende. O exército chileno sob o comando do general Augusto Pinochet, com apoio de militares norte-americanos e agentes da CIA, além das organizações paramilitares de extrema direita foram bem sucedidos na derrubada do regime socialista, democrático e popular em construção desde a eleição de Salvador Allende à presidência do Chile, em 1970.

Antes de ser eleito presidente Allende disputou e perdeu as eleições presidenciais de 1952, 1958 e 1964. Nessa última, Eduardo Frei foi eleito ao cargo com patrocínio de Washington, que investiu milhões na campanha do candidato da direita chilena (do Partido Democrata Cristão) que contou com a colaboração de agentes da CIA na sua campanha.


Contudo, nas eleições de 1970, a revelia dos interesses norte-americanos, Allende foi eleito presidente pela coalizão de esquerda Unidade Popular (UP), com 36% dos votos, contra 34% de Jorge Alessandri, o candidato da direita bancado pelos EUA, e 27% do também candidato de esquerda Radomiro Tomic. Documentos secretos da Agência de Estado Americana, que vieram à tona anos depois, revelam que o governo dos EUA tentou impedir que Allende tomasse posse. Como não obteve êxito, passou ao “plano B”: inviabilizar seu governo, impondo um bloqueio econômico informal ao mercado chileno e derrubando o preço do cobre, o principal produto de exportação do país, no mercado internacional. Os Estados Unidos apostavam que a deterioração da economia chilena instigaria o povo contra o governo. O embaixador norte-americano no Chile, Edward Korry, afirmava: "— Não permitiremos que nenhuma porca e nenhum parafuso (americanos) cheguem ao Chile de Allende". Nixon, por sua vez, ordenou ao Departamento de Defesa: "— Há uma chance em dez, mas salvem o Chile, façam a economia estancar!".

As táticas para derrubar Allende não se restringiram à economia. Neste período, a CIA financiou os jornais chilenos, bem como emissoras de rádio e TV que se opunham ao governo.Também apoiou, financiou e treinou grupos paramilitares de extrema direita que, aos poucos, tornar-se-iam grupos terroristas, a exemplo o Patria y Libertad. Sob a chancela da CIA e dos partidos de direita, como Partido Nacional do Chile, esses grupos tentaram de todas as formas depor o presidente democraticamente eleito e derrotar sua base de apoio, a Unidade Popular. Não convinha aos EUA, as voltas com a guerra fria, e envolvido na guerra do Vietnã, ter mais um país socialista (além de Cuba) nos seus “domínios”. Os EUA não contavam, porém, que a população manteria seu apoio às plataformas políticas da Unidade Popular e ao presidente. De maneira que todas as tentativas “democráticas” para depor o governo de Allende fracassaram. Seu governo foi fortemente atacado e ridicularizado pelos meios de comunicação, de propriedade dos seus opositores, mas Allende respeitou a liberdade de imprensa e de expressão. Ao invés de impedí-los de se expressar e publicar as propagandas anticomunistas buscou fortalecer ideológica e psicologicamente o proletariado e o campesinato, isto é, sua base de apoio político. Em setembro de 1972, uma greve de proprietários de caminhões conflagrada pela Confederación Nacional del Transporte, então presidida por León Vilarín, um dos líderes do grupo paramilitar Patria y Libertad parou o país, impedindo o transporte da safra agrícola de 1972/73. A CIA teria gasto 12 milhões de dólares financiando a greve dos proprietários de caminhões. Mesmo com o desabastecimento de alimentos o governo não fez uso da violência para decidir a questão.

Allende defendia a chamada "via chilena para o socialismo", ou seja, uma transição pacífica do capitalismo ao socialismo, com respeito à Constituição Chilena, aos direitos constituídos e sem o uso de força ou violência. Em 29 de junho de 1973, grupos paramilitares e parte do exército chileno ensaiaram um golpe para derrubar o governo, mas a tentativa fracassou. Na ocasião, o Chefe das Forças Armadas chilenas, o general Carlos Prats, solicitou que fosse decretado estado de sítio no país, mas o pedido foi negada pelo Congresso Nacional, por 51 votos a 82. Os partidários do governo saíram as ruas manifestar apoio ao presidente e pedir: "a cerrar, a cerrar, el Congresso Nacional…". Allende, porém, respondeu: — “Faremos as mudanças revolucionárias em pluralismo, democracia e liberdade. Isso não significa tolerância com antidemocratas, nem tolerância com os subversivos, nem tolerância com os fascistas, camaradas! Mas vocês devem entender qual é a real posição deste governo. Não vou, porque seria absurdo, fechar o Congresso. Não o farei. Já disse eu repito. Mas caso necessário, enviarei um projeto de lei de plebiscito para que o povo resolva esta questão”.



No dia 11 de setembro de 1973, perto das 7h da manhã Allende se dirigiu ao La Moneda (sede do governo chileno) como fazia todos os dias. Contudo, antes das 8h seu gabinete foi informado, por uma Junta Militar dirigida pelo general Augusto Pinochet, de que tropas do exército já haviam cercado o Palácio e ele deveria entregar o cargo e desocupar o palácio presidencial, ou seria atacado por tropas de ar e terra. Allende respondeu que permaneceria no cargo e que se quisessem destituí-lo teriam que empregar a força. As 9h55 chegaram os primeiros tanques do exército chileno, os franco-atiradores leais ao governo os enfrentam, enquanto o Presidente decidia fazer um último pronunciamento ao povo:

"Pagarei com minha vida a lealdade do povo. E os digo que tenho a certeza de que a semente que entregaremos à consciência de milhares e milhares de chilenos não podera ser cegada definitivamente. Trabalhadores de minha Pátria! Tenho fé no Chile e em seu destino. Superarão outros homens nesse momento cinza e amargo onde a traição pretende se impor. Sigam vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor." Salvador Allende, 11 de setembro de 1973

Enquanto as tropas militares cercavam o Palácio, os marines norte-americanos permaneciam de prontidão, no limite das águas territoriais chilenas. Se houvesse resistência armada ao golpe de estado, sobretudo do povo, o plano era invadir o Chile, para "preservar a vida de cidadãos norte-americanos". Ou seja, se preciso fosse os soldados estrangeiros iriam intervir e reprimir o povo chileno em seu próprio país para garantir os interesses dos EUA.


Por volta das 11h52 min, aviões da Força Aérea Chilena bombardearam La Moneda, mesmo assim, Allende e seus partidários não se renderam. Segundo testemunhos de exilados chilenos, os soldados norte-americanos participaram ativamente desse ataque aéreo. Às 14h palácio presidencial foi tomado pelo exército. Segundo os militares, Allende teria se suicidado pouco antes da invasão, mas para muitos de seus compatriotas o presidente chileno foi sumariamente executado.

No dia 11 de setembro de 1973, os EUA ajudaram a derrubar o presidente eleito pelo voto direto, Salvador Allende e a revogar o estado democrático de direito no Chile. Às 18 h do mesmo dia, uma Junta Militar revogou os direitos constitucionais do povo chileno e Augusto Pinochet assumiu o governo do país como ditador. A frente da nação perseguiu e matou seus opositores. Antes de completar 1 ano de governo, cerca de 20 mil pessoas haviam sido assassinadas, 30 mil estavam presas e sendo submetidas a torturas selvagens. Estima-se que 50 mil pessoas foram executadas durante o governo de Pinochet, incluindo alguns brasileiros que moravam no Chile à época.

Discurso de Salvador Allende

Discurso da Junta Militar
Em 16 de Outubro de 1998, Pinochet foi detido pela Scotland Yard em Londres, onde fazia tratamento médico. A prisão foi solicitada pela justiça espanhola, que pretendia que o ex-general fosse julgado por crimes e abusos aos Direitos Humanos. Pinochet foi acusado de genocídio, terrorismo e torturas, com base em denúncias de familiares de espanhóis desaparecidos no Chile durante seu governo. Apesar do pedido de extradição, permaneceu 503 dias em Londres esperando o parecer da justiça inglesa, que decidia se ele poderia ser julgado ou não, devido sua idade e seus problemas de saúde. Margaret Thatcher, ex-Primeira Ministra da Inglaterra, veio a público expressar seu apoio ao general-genocida, a quem chamou de "um amigo que ajudou a combater o comunismo". Pouco depois o governo britânico recusou-se a extraditá-lo para a Espanha. Uma junta médica o declarou mentalmente incapacitado para enfrentar um julgamento. Pinochet foi extraditado para o Chile em março de 2000, onde permaneceu até sua morte, ao 91 anos, no dia 3 de Dezembro de 2006. As Forças Armadas chilenas prestaram-lhe as honras de comandante supremo. Ironicamente, Augusto José Ramón Pinochet Ugarte morreu no Dia Internacional dos Direitos Humanos e dos Povos Indígenas.


SOL Y LLUVIA - "Para que nunca mas"

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